UHHHUUUU, partiu férias, partiu mais uma aventura!
Pelo nosso planejamento sabíamos que alguns dias seriam longos na estrada e isso já aconteceria nos primeiros dias, mas foram mais tempo do que prevíamos, decorrente de alguns imprevistos…
1º dia, por 2x na Regis Bittencourt, engarrafamento e lentidão para passar na serra do cafezal com a interminável obra de duplicação e mais à frente no pedágio de Cajati, paramos outra vez, agora um acidente interditou a rodovia e ficamos parados com o motor desligado por horas. Já ao entardecer seguimos viagem, mas ainda longe do nosso hotel veio a noite, a chuva, o nevoeiro e o cansaço, mas chegamos depois de quase 14hs na estrada e 995km.
2º dia mais um longo dia na estrada pelo interior do país rumo a Uruguaiana. Até chegar no Rio Grande do Sul a estrada é de pista única com muitos caminhões o que torna a direção bastante cansativa, mas a estrada até que é boa, depois só piora, a BR285 e 472 estão em péssimo estado de conservação.
A paisagem muda muito, no dia anterior, muitas cidades e agora só campos de cultivo. Tivemos o privilégio de cruzar a ponte sobre o rio Ibicuí com um lindo pôr do sol, chegamos no início da noite depois de 12,5hs e mais de 660km.
La Reunion II
3º Antes de cruzar a fronteira e seguir na estrada, fomos na concessionária fazer a revisão do carro que já estava agendada. Carro ok cruzamos para Argentina sem demora e seguimos para Buenos Aires, uma parada no YPF e aproveitamos o wifi para atualizar a hora do nosso encontro. Em Buenos Aires passamos pela famosa 9 de Julio inteira com o seu imponente obelisco até encontrar nossos amigos italianos Andrea e Chiara, que estavam nos esperando no hotel.
Quanta alegria e felicidade estampada em nossos rostos, poder nos reunir mais uma vez para uma viagem não tem preço (não é propaganda do cartão ☺), La Reunion II estava completa, vamos começar, mas antes uma missão, colocar todas as malas, bolsas e mochilas na pequena mala do Pipistrello, o nosso carro.
Como missão dada é missão cumprida e a viagem é de carro, então vamos para a estrada, isso porque não vamos dormir na capital Argentina e sim na pequena cidade de Azul distante uns 300km. Nossa hospedagem é na estrada, o que é melhor pois não precisamos entrar na cidade, mesmo assim não foi fácil, chegamos bem tarde e estava muito escuro, todas as luzes apagadas e muito frio. Uma vez isso resolvido, foi só curtir o lugar lindo e aconchegante. Nesse dia foram 12hs na estrada e quase 1000km.
4º dia, mais um longo dia na estrada rumo ao sul, o planejado era ir para Puerto Pirámides um povoado que fica dentro da Península Valdez, mas não sabíamos que é necessário pagar uma taxa para entrar na península, por ser considerada uma reserva ecológica o que nos fez mudar o plano e dormimos em Puerto Madryn, nos hospedamos no mesmo hostel quando estivemos lá há alguns anos. Ainda foi possível dar uma caminhada pela orla até o píer e curtir o pôr do sol. Neste dia andamos 1095km em 11h20.
5º dia, o dia com a maior distância a ser percorrida, Andrea e Chiara disseram várias vezes que isso era impossível, percorrer tal distância de carro num único dia, bem, então podemos dizer que fizemos o impossível 2 vezes, isso porque é a segunda vez que saímos de Puerto Madryn para Río Gallegos em um único dia dirigindo por mais de 1200km, e desta vez foi mais fácil, sem problemas com a escassez de postos de combustível. Por horas o que se vê é uma reta interminável que se encontra com o horizonte onde por muitas vezes as únicas curvas são do carro “brigando” com o vento que tenta te tirar da pista, essa é a fantástica RN3. Nesse momento Andrea já é um expert motorista do Pipistrello e fizemos em pouco mais de 12hs.
6º dia, uma rápida passagem pela orla para fotos, muito frio e vamos para estrada. Pouco mais de 1h depois e já estamos na fronteira, temos um pouco de trauma com esta aduana, na 1ª vez levamos 5hs com os trâmites, ainda bem que eles melhoraram o sistema e agora está tudo mais fácil e rápido. Agora é hora de atravessar o Estreito de Magalhães no Ferry boat, embarcamos e rapidamente nos agasalhamos porque o vento na patagônia é de congelar até a alma. Vimos poucos golfinhos que apelidamos de “fake orca”, pela semelhança das cores com o outro mamífero.
Agora já na Terra do fogo, dirigimos pelo rípio por uns 90km, depois ficamos sabendo que esse é o caminho secundário, o principal está quase todo asfaltado, enfim hora de cruzar outra fronteira e voltar para a Argentina. Neste paso as aduanas não são integradas, estão separadas por uns 15km de rípio entre elas, para manter o padrão. Na aduana Chilena, Chiara perguntou a um agente se estava tudo ok e este disse que sim, que era só se dirigir a próxima aduana, mesmo achando estranho e sabendo que algo estava errado, seguimos. Ao chegar no trâmite argentino, ficamos sabendo que deveríamos voltar para fazer todo o trâmite que não fizemos, que perda de tempo. Burocracia resolvida, estamos na Argentina.
Depois de Río Grande começamos a ver a paisagem mudando novamente, surgimento de árvores bem inclinadas decorrentes do forte vento da patagônia e as montanhas nevadas ao fundo. Paramos no lago Fagnano e por sorte vimos 2 castores nadando, depois paramos no lago Escondido e no mirante do paso Garibaldi. E finalmente chegamos no fim do mundo, hoje foram 11hs e 560km na estrada.
7º dia, primeiro dia completo em Ushuaia e fomos logo caminhar pelo Parque Tierra del Fuego, foram uns 17km de trekking. Em particular eu Alvaro amo demais esse lugar, é uma sensação inexplicável ao ver a placa do final da RN3, de ter dirigido até o fim do mundo e agora só resta voltar, nós seguimos por essa estrada desde Buenos Aires e nesta placa acaba qualquer estrada, rua, via, etc, não tem mais como seguir de carro. Claro que tem um bônus para quem seguir a pé, um além do fim do mundo, que não vamos contar.
8º dia, por dica do dono da hospedagem nos aventuramos pela Ruta J até um ponto onde deveríamos parar o carro e caminhar por uma trilha em direção ao canal Beagle na tentativa de ver alguns pinguins que poderiam estar perdidos. Mas essa ideia murchou antes mesmo do trekking, ao chegar no local do início da trilha há uma placa dizendo não ultrapasse, propriedade privada e estava tudo cercado, voltamos e partimos para o plano B.
Ah, antes disso ainda na RN3, vimos neve, sim isso é Ushuaia, um pouco de neve em pleno dezembro, paramos o carro e fomos sentir um pouco dessa rápida experiência, Fernanda parecia criança.
O nosso plano alternativo é fazer o trekking para a Lagoa Esmeralda, o início da caminhada fica há uns 40km do centro de Ushuaia ainda na beira da estrada, a trilha começa leve por um bosque, passamos por uma ponte que corta um rio com represa feita por castores e começamos a subir a montanha. A partir de agora ficou pesado porque o solo estava muito molhado e escorregadio, por vezes tínhamos que desviar da trilha encharcada. E assim subimos alguns momentos pelo bosque e outros uma vegetação mais rasteira até chegar na lagoa que faz jus ao nome. Ficamos um tempo sentados na margem contemplando a beleza do local, comemos e descansamos um pouco. Já de volta ao centro da cidade fomos fazer umas fotos na famosa placa do fim do mundo.
9º dia, nosso último dia no fim do mundo e para fechar com chave de ouro fizemos mais um trekking TOP, começamos a caminhar com uma vegetação mais rasteira, uma ponte que cruza um rio de água cristalina, e então subidas e mais subidas pesadas pelos bosques, muitas partes com bastante lama devido as recentes chuvas, até que as árvores dão lugar as pedras e gelo, mas não é o final, ainda tem uma última subida pelas pedras, muitas delas soltas o que torna ainda mais perigoso e com cautela a subida. Quem nunca quando estava em um trekking pensou em desistir? Porque a última parte sempre é a mais difícil? Pois é, quase desistimos, mas conseguimos vencer a subida íngreme com o vento patagônico e as pedras soltas. Mas chegamos na lagoa de Los Témpanos que fica na base do Glaciar Vinciguerra, realmente surpreendente, ficamos de queixo caído, um paredão de pedra sustentando o glaciar no alto e na base uma lagoa que se forma com o degelo com uma fina camada de gelo na superfície. Uma pena foi não poder ficar ali muito tempo admirando, porque o forte vento gelado se impõe como um egoísta querendo esse lugar só para ele e expulsando todos os aventureiros.
10º dia, como a própria dona da hospedagem nos disse um dia conversando no café da manhã, quando ela sai de férias, sempre vai para o norte, Andrea não perdeu tempo e retrucou, sério? Como se fosse possível ir para o sul. Bom esta é a nossa direção, retornamos pela RN3, cruzamos a fronteira para o Chile sem problema. Seguimos pela CH257 em direção a Camerón após um cruzamento, uns 15km de rípio até o Parque Pinguim Rei, local ainda não muito famoso onde podemos avistar uma colônia desta espécie que dá nome ao parque. Não é possível chegar muito perto, quase interagindo com eles como ocorre em outros lugares, porém com outras espécies de pinguins, como os pinguins de Magalhães que não sofrem com a proximidade dos humanos para se reproduzir, essa espécie linda, são raros de se ver fora da Antártida e por isso, existem binóculos no parque o que ajuda muito. Quase não entramos, era segunda-feira e o parque não abre e claro não sabíamos disso, mas com uma ajuda divina e sorte de viajante, o parque abriu exclusivamente para nós.
Um pontiniiiiiiii…
Continuando nossa jornada na estrada, eu Alvaro estava dirigindo quando chegamos no Ferry boat para cruzar o Estreito de Magalhães, queria filmar a entrada no barco, coloquei a GoPro no suporte fora do carro e com uma mão no volante e outra na câmera (só como um apoio caso ela se soltasse) dirigi pela rampa de embarque devagarinho até que uma forte “chuva” de pedra entrou pela janela sujando todo o carro, nos atingindo, eu não sabia se fechava o vidro, esquecia a câmera, dirigia. Que horror! Estacionar nunca foi um problema até aparecerem 2 funcionários, um na frente falando para direita e outro atrás falando esquerda, eu ia pra frente e pra trás sem sair da posição. Calma, quem está certo, para quem eu olho? Questionei. Ok, carro estacionado, hora de tentar limpar ou amenizar o estrago das pedras.
E a emoção deste dia está longe de terminar, sem abastecer desde a Argentina, talvez a última vez ainda em Río Grande, e sem passar por nenhum posto chegamos numa bifurcação, a esquerda 40km distante Punta Arenas e a direita 170km até o nosso destino. O carro não tem combustível suficiente para chegar em Puerto Natales e a outra cidade seria um atraso na viagem, nossos aplicativos não mostravam nenhum posto de combustível no caminho, então o que fazer? Vimos um posto perto, parecia precário, ao chegar vimos que estava abandonado, mas tinha uma pessoa “escondida” dentro de um container, não sabemos se do frio, vento ou do que. Ele vende combustível no galão 50% mais caro, tentamos negociar sem sucesso, ok abastece 10L. Não sabemos se a gasolina está batizada, velha, etc, então não colocamos mais. Durante o abastecimento estávamos nos imaginando em uma cena de filme de terror, quando a qualquer momento seríamos atacados, estávamos sozinhos, julgando pelas roupas, o homem não tinha uma boa aparência, tão pouco era simpático, no fundo uma porta de ferro batendo com o vento completava o cenário de medo.
Agora o carro nos dá uma autonomia de 7km a menos que o destino, ou seja, ainda não dava para chegar. Desligamos o ar condicionado, colocamos o computador de bordo na função consumo instantâneo com a meta de não deixar ficar menor que 10km/L e fomos assim salvando combustível e pensando no que fazer em caso de parada por pane seca, dormir no carro, caminhar até a cidade, etc. estávamos calados, apreensivos. Ao nosso redor era raro aparecer alguma residência ou passar algum veículo. O carro foi aumentando a autonomia e já tínhamos combustível para chegar, mas ao mesmo tempo o combustível foi acabando, entramos na reserva, apareceu uma mensagem no painel “abasteça imediatamente”, como se não fosse nosso desejo. Assim seguimos com essa apreensão até avistar um posto na entrada da cidade. Foi como achar um pote de ouro. Que alívio! Abastecemos 52,5L, sendo que o tanque tem capacidade de 53L, chegamos no cheiro.
11º dia, de volta ao parque Torres del Paine que consideramos um dos mais belos do mundo. Começamos com uma caminhada até o mirante do lago Gray, a maior dificuldade foi em percorrer um trecho totalmente descampado sobre pedras e areia onde o vento tenta a todo instante nos pregar uma peça de derrubar alguém e tem como testemunho o lago Gray. A segunda trilha do dia também é leve, até o mirante Cuernos e mais uma vez o vento foi o protagonista da dificuldade, em alguns momentos seria bom ter ancoras para se manter no lugar.
12º dia, um dos dias mais aguardados por nós, refazer a trilha até o mirante na Base de Las Torres é um privilégio. Fizemos esse trekking em nossa 1ª passagem no parque, clique aqui para ler, e sabemos o quanto foi difícil, agora queremos testar a nossa condição física e experiência em trekking. Como já conhecemos o percurso ao menos em etapas isso nos dá vantagem de saber onde devemos poupar energia e onde podemos imprimir um melhor ritmo. Não deu outra, a não ser na última etapa da subida no meio das pedras, tiramos de letra, fizemos em menos de 9hs os quase 20km.
13º dia, último dia de visita ao parque e escolhemos uma trilha mais leve, se é que existe. A caminhada começa na portaria Laguna Amarga e percorre um trecho conhecido por presença constante de puma. Queríamos muito ver ou não esse animal e com um misto de apreensão, atenção e gratificação por estar ali contemplando o visual seguimos a trilha. Os únicos indícios que vimos do puma eram os restos de suas refeições, muitas carcaças de guanacos frescas, secas ou ossadas.
14º dia, carimbamos mais uma vez o passaporte com a entrada na Argentina e seguimos pela mística RN40 até El Calafate, nome em homenagem a fruta Calafate, comum na região. Nem paramos na cidade, indo direto para o parque deslumbrar o Perito Moreno. O clima não estava dos mais amistosos, muitas nuvens e uma fina chuva teimava em cair, e não era só a chuva que caía, vimos muitos blocos de gelo despencando do paredão. No final vimos um grande iceberg que estava bem próximo da passarela se partir, foi um gran finale.
Capital do Trekking
15º dia, uma bela, porém curta estrada até El Chaltén e chegamos na pequena cidade sem muita estrutura, mas ótimo lugar para aventureiros. O hostel Rancho Grande foi uma ótima surpresa, atmosfera, bons quartos, restaurante, sem falar a equipe, sempre atenciosa e com dicas precisas. Já era tarde quando saímos para uma trilha de 17km até a Laguna Torre. Como o sol se põe às 22hs podemos nos dar esse luxo, mais uma bela trilha.
16º dia, o cara do rancho nos disse que nenhum hospede dele “trapaceia” indo de ônibus por um trecho a fim de encurtar a caminhada para o Fitz Roy, então seguimos a pé. Logo no início uma subida de uns 3km, depois praticamente plano curtindo a natureza até o último km. Hora de separar os homens dos meninos, praticamente 1h para caminhar 1km, uma subida muito forte por uma trilha no meio das pedras. Chegamos exaustos, mas a energia do lugar nos contagia para contemplar, nesse lugar a natureza nos mostra o quão somos pequenos e mostra quem realmente é frágil.
Aqui é a nossa metade do caminho de volta. Andrea e Chiara sempre caminham na frente em ritmo mais forte e param de tempos em tempos para nos esperar, depois da forte descida, na parte mais plana, nos vimos uma única vez e retornamos por toda a trilha até o hostel sozinhos, pensamos em algumas hipóteses, que estariam nos esperando no restaurante, que aconteceu algo e eles apertaram o passo, passaram tantas hipóteses por nossas mentes. Ao chegar no hostel não os vimos, mandamos uma mensagem no celular e não receberam, ou seja, não estavam lá. Uns 10min depois chegam eles ½ palmo de língua para fora por virem correndo tentando nos alcançar por todo caminho, eles haviam se perdido logo após o nosso último encontro.
17º dia, El Chaltén fez jus ao título de capital do trekking, em menos de 2 dias que ficamos na cidade caminhamos 40km pelas montanhas. Era hora de retornar para o Chile, mas antes uma longa jornada pela RN40, 70km de rípio e paisagens únicas até chegar em Chile Chico. Ficamos hospedados em um flat de frente para o lago General Carrera e jantamos um macarrão sensacional feito pela Chiara.
18º dia, de Chile Chico até Puerto Río Tranquilo percorremos 165km em estrada de rípio, quase sempre margeando o lago Gral. Carrera que a cada curva nos surpreendia com uma nova paisagem. A primeira parte foi na CH265, que não é a Carretera Austral, mas podemos considerar pela beleza, depois a tão esperada Carretera Austral, mas infelizmente esse trecho a estrada está em péssimo estado.
It’s rain again, vaffanculo!
19º dia, o tão aguardado trekking no glaciar Exploradores foi do ápice em nossos sonhos ao triste arrependimento. Tudo começou quando chegamos na entrada do parque e estava chovendo, pensamos que isso não seria problema, temos casacos para chuva, colocamos o dinheiro e passaporte no bolso e fomos para a trilha. O guia? Podemos dizer displicente, pouco nos orientava e ajudava. O glaciar? Em sonho, somente gelo, como o Perito Moreno só que cheio de buracos como grutas, na realidade, cheio de pedras, como se o gelo estivesse sujo e só vimos uma gruta.
Depois de 5hs e quase 8km caminhando sobre o gelo e sob chuva ficamos ensopados. Lembra do que colocamos nos bolsos? Sim molhamos todo nosso dinheiro, passaporte e tudo que estava lá, foi um erro nosso levar isso. Uma vez de volta a hospedagem secamos nota por nota, roupas, etc.
20º dia, tomamos um pequeno barco na “praia” de Río Tranquilo, o lago estava calmo e a navegação agradável até as capillas de Mármol, um lugar único, imaginando o tempo que a artista natureza levou para esculpir um imenso labirinto entrelaçado de túneis no mármore. Que maravilha! Na volta o capitão teve que mostrar suas habilidades, o lago revolto fazia o barco decolar sobre as ondas, o vento gelado quase nos congelando, mas tudo não passou de mais uma aventura que hoje virou história.
Hora de conhecer mais um pouco da carretera e seguir viagem, não é só o rípio que nos faz ir devagar, mas também as curvas, pontes e as paisagem que mais parece pintura de tão surreal. Mas quem tem pressa? Almoçamos um sanduiche delicioso em um “food bus” bem charmoso na beira da estrada. Depois deste ponto o asfalto apareceu, passamos por um local de muitas curvas que nos lembra o caracoles na cordilheira, mais estrada e finalmente chegamos em Coyhaique.
21º dia, o dia estava como nenhum viajante gosta, a chuva nos fez mudar as aventuras previstas para hoje. Seguimos a estrada que nos leva ao litoral, belíssima, serpenteando as montanhas, muitos bosques, parques, cachoeiras e um pouco de nevoeiro. Chegamos até a cidade de Puerto Aysén com a sua bela e imponente ponte vermelha e coladinho está a pequenina Puerto Chacabuco. A chuva não dava trégua, impedindo qualquer tentativa de atividade outdoor, mas somos teimosos e tentamos alguns passos fora do carro somente para ficar molhados.
22º dia, hoje não tem mais chuva e partimos para mais um trekking, na reserva Nacional Coyhaique, nossa hospedagem era na estrada da entrada do parque então já fomos caminhando. Na trilha avistamos um pequeno gambá, igual ao da Disney preto e branco desfilando pela trilha, neste mesmo instante um filhote de veado passou correndo ao longe, foi o único que vimos. Depois que chegamos em uma bela lagoa nos separamos, Andrea e Chiara foram fazer um trekking mais longo e hard no topo da montanha, enquanto nós fizemos uma trilha mais relax pelo bosque e lagoas. Como tínhamos tempo Fernanda ficou fotografando cada flor que via, parecia catalogar a flora do parque.
Juntos novamente resolvemos mudar os nossos planos da viagem e antecipar nossa ida para a próxima cidade, ainda bem que fizemos contato com a próxima hospedagem, foi quando nos responderam informando que a carretera estava interditada e como não existe outro caminho, não podíamos chegar. No dia anterior decorrente da forte chuva houve um deslizamento de terra e lama em Villa de Santa Lucia, uma grande tragédia com mortes. Mudar os planos agora é uma questão de necessidade.
23º dia, ainda bem que conseguimos ficar mais um dia aqui para ter tempo de nos organizar depois desta trágica notícia. Mas era domingo e pouco podíamos fazer, sendo assim nada melhor do que aproveitar o nosso forçado último dia na carretera.
Seguimos para o Parque Nacional Queulat, foi uma viagem bem demorada até o parque, sempre dirigindo muito devagar devido as curvas, buracos, obras, contemplação da beleza natural, seja qual fosse o motivo o resultado era sempre uma velocidade muito baixa.
No parque seguimos a trilha para o mirante do ventisquero colgante, uma imensa geleira suspensa no alto da montanha que parece desafiar a gravidade, simplesmente incrível. A trilha é fácil e bem bonita, alguns trechos parecem cenas de filmes de fantasia com lindos bosques repletos de musgo.
24º dia, como última esperança de uma rota alternativa pelo Chile, chegamos cedo no escritório do ferry boat, já havia uma pequena fila e logo se formou uma imensa, muitas pessoas com o mesmo problema. Infelizmente acabou de vez o sonho de cruzar a carretera de barco pelos fiordes, havíamos sido os primeiros a comprar as passagens. Na fila conhecemos um morador local que nos deu uma dica de seguir por um caminho mais curto em relação ao que pensamos inicialmente.
Não teve jeito, voltamos para a Argentina, após cruzar a aduana mais uma vez a estrada mudou para um rípio em péssimo estado, foram mais de 3h para uma distância de 100km até nos encontrarmos novamente com a mística RN40. Foi um longo e cansativo dia, passava da meia noite quando chegamos no hotel em Bariloche. Após esse trecho de rípio em péssimo estado um dos amortecedores do Pipistrello não resistiu e estourou.
25º dia, vamos voltar para o Chile, Argentina agora serviu somente de trampolim, mas como nesses últimos dias nada está sendo fácil, hoje não foi diferente. Após seguir um trecho pela ruta dos 7 lagos paramos num engarrafamento, os agentes aduaneiros da Argentina estão fazendo greve. Depois desse contratempo, mais um agora na aduana chilena. Nos informaram que deveríamos ter recebido na Argentina um documento do carro para apresentar o que não tínhamos, ficamos mais um tempão esperando uma resposta da Argentina, se não teríamos que voltar uns 16km. No final os chilenos nos liberaram e informaram que esse documento não era necessário para veículos brasileiros.
Agora sim livre para dirigir, seguimos a importante CH5 até a pequenina cidade de Frutillar onde podemos contemplar na margem do lago o visual com o vulcão Osorno na margem oposta, depois uma caminhada rápida pelo entorno, fomos finalmente pro nosso destino, Puerto Montt.
26º dia, só tínhamos hoje para aproveitar, porém mais uma vez o dia amanheceu chuvoso. Fomos até o mercado de peixes, um lugar interessante com peixarias, restaurantes, artesanatos e leões marinhos que aproveitam a facilidade de alimentos. Na sequência passamos por Puerto Varas e margeando o lago chegamos a Ensenada, ali subimos de carro exatamente até a metade do vulcão Osorno, mas não vimos absolutamente nada, o nevoeiro estava muito forte. Descemos e fizemos o nosso último trekking, se é que podemos considerar com menos de 2km de extensão. Retornamos ao mercado de peixe em Puerto Montt para comer, não gostamos muito, mas valeu a experiência.
Refrescante surpresa
27º dia, essa data marca o início da nossa jornada de retorno, ou seja, sequência de longos dias inteiros na estrada, mas para começar retornamos para a Argentina até Bariloche pelo mesmo caminho que fizemos para Puerto Montt, desta vez sem problema nas aduanas. A partir daí o caminho era totalmente novo, a estrada 237 é bela, parece a RN40. Solitária no meio da natureza entre montanhas e vales, os únicos “amigos” inseparáveis são as 2 represas que acompanham todo o trajeto.
Esse dia deve ter sido um dos dias mais quentes de toda viagem, sempre que fazíamos paradas para foto, vendo aquela água ali naquele visual, a Fernanda dizia que queria tomar banho. Foi então que em Villa El Chocón, quando paramos para ver algumas pegadas de dinossauros na beirada do lago. O registro do passado está ali marcado no solo e onde eles há milhões de anos frequentavam. Resolvemos aproveitar também, trocamos de roupa e caímos na água, foi um momento incrível e refrescante.
28º dia, o último break break break, light light light, go go go e novamente mais de 1000km e muitas horas na estrada até Lujan, no último trecho foi difícil, o entardecer na movimentada RN5 com apenas uma faixa de rolagem, muitos caminhões e vendo pelo retrovisor uma tempestade que se aproximava cada vez mais aumentava a vontade de chegar logo. Conseguimos chegar no hotel antes da chuva, mas ao sair para comer ela veio junto com vento e muito forte. Assim foi nosso jantar de despedida.
Kiss and fly
29º dia, saímos do hotel como primeiro destino ao aeroporto internacional de Buenos Aires, aqui terminou a La Reunion II, Andrea e Chiara retornaram para a Itália, despedida é sempre triste e como ocorreu em outros momentos semelhantes entre nós, os olhos se encheram de lágrimas.
Após o momento triste, tomamos o rumo do segundo destino do dia, Brasil. Cruzamos a fronteira ainda de dia em Uruguaiana, depois foi a mesma estrada esburacada BR472 até São Borja, só que com um agravante, a chuva. Eu Alvaro tinha em mente que o hotel era em São Borja, mas não, estava errado, era em São Luiz Gonzaga, uma pequena cidade distante mais uns 100km. Estávamos exaustos, à noite, chovendo e a estrada em mal estado, neste momento só pensávamos em chegar.
30º dia, mais um dia na estrada, o quarto consecutivo. Neste fizemos um desvio na rota para conhecer as ruínas de São Miguel Arcanjo em São Miguel das Missões, lugar lindo que transmite paz. Era véspera de Natal, as rodovias estavam vazias, mas nem por isso foi um dia fácil, a chuva nos acompanhou por todo caminho até Curitiba.
31º dia, ho ho ho é Natal e tiramos o dia para descansar, acordamos tarde, fomos ao restaurante para um delicioso almoço, conhecemos a praça do Japão, o parque Tingui e voltamos no memorial Ucraniano. No início da noite fomos ao cinema, fizemos bastante coisas para quem estava de preguiça.
32º dia, madrugamos na concessionária para revisão do Pipistrello e checagem do amortecedor, realmente está estourado e temos que trocar, mas só no RJ. Agora sim último dia na estrada até em casa, só que mal entramos na Regis e tudo parado, motores desligados, até parece um dejavú da ida. Voltamos a andar devagar com muitas lentidões e uma fina chuva até Registro. Uma boa notícia é que a Serra do Cafezal está duplicada, finalmente terminaram as obras. Em SP cruzamos toda a Marginal no engarrafamento de sempre. Depois foi só “vencer” a Dutra e chegamos em casa.
NÚMEROS DA VIAGEM:
Dias de Viagem | 32 |
Distância Percorrida | 16.326 km |
MAPA:
TRACK DA VIAGEM:
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Veja aqui o nosso post sobre colecionando carimbos não oficiais no passaporte.